segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Exercício de Estilo 01 - "O Duelo" - Corrigido

Bom ... o primeiro exercício foi bem! Malu elogiou bastante e fez pequenas considerações (uma sobre o texto mesmo, outras poucas de gramática). Estou colando o exercício corrigido aqui (com os trechos alterados em BOLD), pra efeito de comparação. E vamo que vamo!

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De um lado vinha eu, olhando fixo para o chão. Mania que sempre eu tive. Caminhava há quase uma hora. O carro estava na revisão e decidi voltar do trabalho pra casa a pé. Sempre gostei de caminhar olhando para o chão. Ao contrário do que muitos pensam, sempre vi este hábito como um ato de coragem. Olhando para o chão não sobram muitas alternativas se não pensar. As pessoas têm medo disso. Uma coisa que sempre me incomodou é ver gente que não se sente confortável ao ver outras, sozinhas, pensando. Pior do que não se sentir confortável é interromper estalando os dedos, batendo palma ou coisa parecida, com alguma frase do tipo “Acorda!! Esse vive com a cabeça na Lua!”. Considero isso pobreza de espírito. Era justamente sobre isso que eu pensava.

De outro lado vinha ela. Droga! Tinha de ser justo ela? Seis meses se passaram e eu ainda não estava preparado pra encontrá-la. Um dia estaria ? Bom, isso não era coisa pra se pensar naquela hora. Faltavam poucos passos pro encontro se tornar indisfarçável. O que mais me assombrava é que eu sabia que era ela sem precisar levantar a cabeça. O ritmo do salto batendo no chão foi o que me fez reconhecê-la. Mais de 3 bilhões de mulheres, e ela conseguiu desenvolver um batuque ao andar que mais ninguém sabia fazer. Será que alguém, além de mim, tinha o dom de reconhecer esta melodia? Tlec, tlec, tlec, cada vez mais alto. E agora?

Era uma chance pra mostrar que tudo estava bem. Ou o momento perfeito, para que, então, sem discurso preparado, eu dissesse tudo que sempre quis. Sem freios, sem pensar, só dizer. Dois passos. Não restavam mais que dois passos para que o duelo começasse. Então levantei a cabeça, e ... nada disse. Apenas continuei andando.

Sentei-me. Precisava de fôlego. Não foi covardia, medo, timidez ou qualquer sentimento desses que impedem a gente de fazer o que gostaria, que me fizeram calar. Ao levantar a cabeça, descobri que a dona daqueles passos não eram Ela. Outra mulher, qualquer uma. Nem bonita era, e andava produzindo o mesmo som Dela. Aquele som que me fazia sentir tão especial por ser o único a reconhecê-lo. Fôlego recomposto. Passou. Voltei a caminhar olhando fixo para o chão.

(Tirado de SANT’ANNA, Sérgio, “O Duelo”. In Contos e novelas reunidos, São Paulo, Companhia das Letras, 1997)

domingo, 23 de janeiro de 2011

Exercício de Estilo 01 - "O Duelo"

Depois de muitos anos maltratando meu gosto pela escrita, resolvi mudar um pouco essa história. Por conta dum projeto literário emperrado há uns 5 anos, encontrei uma "mentora" (Dona Malu) que está me fazendo voltar a estudar (algo que precisava fazer há anos), e agora começa a me provocar, dando pequenos exercícios pra exercitar os recursos que uso menos, quando escrevo minhas bobagens. Aí vai o primeiro (ainda sem comentários da pssora!).


Exercício 01

Criação de um conto ou crônica a partir de um esquema inicial


Use os inícios de parágrafos como eixo inicial de uma crônica/conto, em que a percepção de detalhes descritivos iniciais encaminhem a história (e/ou reflexões).

1 –

De um lado vinha eu (de onde? desde quando?), olhando fixo para ...

De um lado vinha eu, olhando fixo para o chão. Mania que sempre eu tive. Caminhava há quase uma hora. O carro estava na revisão e decidi ir voltar do trabalho para casa a pé. Sempre gostei de caminhar olhando para o chão. Ao contrário do que muitos pensam, sempre vi este hábito como um ato de coragem. Olhando para o chão não sobram muitas alternativas senão pensar. As pessoas têm medo disso. Uma coisa que sempre me incomodou é ver gente que não se sente confortável ao ver outras, sozinhas, pensando. Pior do que não se sentir confortável é interromper estalando os dedos, batendo palma ou coisa parecida, com alguma frase do tipo “Acorda!! Esse vive com a cabeça na Lua!”. Considero isso pobreza de espírito. Era justamente sobre isso que eu pensava.

De outro lado estava ele (ela) ......

De outro lado vinha ela. Droga! Tinha de ser justo ela? Seis meses se passaram e eu ainda não estava preparado pra encontrá-la. Será que um dia estaria ? Bom, isso não era coisa pra se pensar naquela hora. Faltavam poucos passos pro encontro se tornar indisfarçável. O que mais me assombrava, é que eu sabia que era ela sem precisar levantar a cabeça. O ritmo do salto batendo no chão foi o que me fez reconhecê-la. Mais de 3 bilhões de mulheres, e ela conseguiu desenvolver um batuque ao andar que mais ninguém sabia fazer. Será que alguém, além de mim, tinha o dom de reconhecer essa melodia? Tlec, tlec, tlec, cada vez mais alto. E agora?

Era um (uma) ......

Era uma chance pra mostrar que tudo estava bem. Ou o momento perfeito, para que então, sem discurso preparado, eu dissesse tudo que sempre quis. Sem freios, sem pensar, só dizer. Dois passos. Não restavam mais que dois passos para que o duelo começasse. Então levantei a cabeça, e ... nada disse. Apenas continuei andando.

Sentei-me ......

Sentei-me. Precisava de fôlego. Não foi covardia, medo, timidez ou qualquer sentimento desses que impedem a gente de fazer o que gostaria, que me fizeram calar. Ao levantar a cabeça, descobri que a dona daqueles passos não eram Ela. Outra mulher, qualquer uma. Nem bonita era, e andava produzindo o mesmo som Dela. Aquele som que me fazia sentir tão especial por ser o único a reconhecê-lo. Fôlego recomposto. Passou. Voltei a caminhar olhando fixo para o chão.

(Tirado de SANT’ANNA, Sérgio, “O Duelo”. In Contos e novelas reunidos, São Paulo, Companhia das Letras, 1997)

sábado, 11 de setembro de 2010

"Lendo, ouvindo, escrevendo e contando histórias" ou "Herança Maldita", como preferir ...

Aviso : esse post longo é sobre uma descoberta absolutamente imbecil que demorou uns bons 20 anos pra acontecer comigo. Se no final você pensar "Não acredito que perdi meu tempo lendo isso", a culpa é toda sua.

Sempre fui doente por ouvir histórias. O grande culpado disso foi meu pai. Pra quem não o conhece, ele é muito parecido com o pai do filme "Peixe Grande" do Tim Burton. A diferença é que minha relação com ele (ao contrário do protagonista do filme) sempre foi ótima, então as histórias dele sempre me causaram uma mistura de fascínio, orgulho, admiração beirando a idolatria, amor e mais um monte de coisas. Desde as histórias de "primo pobre" filho de sapateiro, passando pela juventude boêmia como jogador de pôquer, chegando nos causos que se misturam com a história da indústria automobilística brasileira.

Além das dele, sempre fui bom em ouvir histórias em geral. Minha mãe sozinha na época de Natal nos tempos de colégio de freiras, meu irmão como goleiro do Banespa, meu avô em todos tipos de aventura que só o início do século passado podia proporcionar, minha avó levando bolo pros soldados na que ficavam nas trincheiras da Estados Unidos na revolução de 30.

Enfim ... sempre fui do tipo de ouvinte que quer ser levado pela história. Do espectador que não quer saber como o mágico fez o truque. Gosto é de acreditar que aquilo é mágica mesmo.

Aí fui alfabetizado e, no primário, lia muito. Livros como "Gênio do Crime" e "A Mina de Ouro" me deixavam completamente louco também. Por conta disso, comecei a me interessar por contar histórias. Pela pouca idade, repetia pros amigos as histórias dos meus pais, avós, e as poucas que aconteciam comigo. Posso falar que tenho DNA de contador de causos.

Só que aí chegou o ginásio e o colegial com seus professores de literatura e por conta deles, comecei a separar todo esse histórico legal, daquela matéria chata e maçante que tinha no colégio. Não por acaso, foi uma das matérias que mais odiei, e isso me causou um estrago com seqüelas que chegam até hoje (uma delas acabou de ser reparada agora, motivo pelo qual comecei a escrever o post, e vou explicar mais abaixo). A principal maldição disso é a idéia que artistas são seres escolhidos, que produzem um material tão distante da vida dos cidadãos "médios", que estes acabam se afastando e considerando arte uma coisa, entretenimento outra.

Foi durante a faculdade, também por alguns professores (dessa vez do Lado Branco da Força), que comecei a entender que tudo aquilo que sempre admirei, ouvi, pesquisei e li já era arte. Aí voltei a ler mais, dessa vez autores que escreviam algo que realmente me interessava, e como consequência direta disso, comecei a escrever crônicas.

Porém, ainda tenho ligeiramente encrustrada na cabeça a noção que literatura, cinema e arte em geral, é algo que não é natural. E tenho que ficar desencalacrando esse lodo que teima em voltar sempre que passo um tempinho sem pensar no assunto.

Sempre admirei o conhecimento dos fãs de HQ. Sempre achei que eram nerds (como eu era), porém com um nível de intelectualismo que eu não era muito digno. O que nunca tinha percebido é que passei por volta de 8 anos da minha infância e adolescência, lendo em média 2 gibis (não HQ, essa era a diferença!) por fim de semana. Meus pais tinham uma casa de campo em Vinhedo e íamos pra lá todos os finais de semana. No "Frango Assado", eu sempre comprava no mínimo 2 gibis. Os preferidos sempre foram os da Disney (Tio Patinhas, Pato Donald, todos do Professor Pardal, e muita raiva do Mickey, aquele viadinho dedo-duro). Também acompanhei quase todos publicados de "As Aventuras dos Trapalhões" com destaque às paródias de filmes como "Didicop, o policial sem futuro". E no meio disso alguns flertes com o "alto-HQ" como a "Morte do Super-Homem", e outras coisinhas mais.

No dia que meu pai vendeu a casa, lembro que tinha um armário todo só de gibis. Colecionador que sou, queria levar tudo pra casa de São Paulo. Ele me deu uma sacola de feira e disse que só poderia levar o que coubesse lá. O resto era lixo. Separei tudo durante um fim de semana e no domingo antes de ir embora, a tradicional fogueira que fazíamos na rua foi a maior de todas. Pelas minhas contas, mais de 300 gibis viraram fumaça.

Junto com a sacola que guardo ainda hoje, escondi esse conhecimento até de mim mesmo. Nunca tinha relacionado isso com "HQ". Gibi é coisa de criança!

Pois é ... porém algumas das histórias e "sacadas" que li nessa época, ainda lembro como das mais geniais que já vi. E foi via o twitter de um amigo e ex-aluno, que a ficha do tamanho de um bonde caiu na minha cabeça e me fez lembrar disso tudo.

Tudo é story-telling, catso! Mania de achar que só o "Viagem de Chihiro" é arte e o "Tom e Jerry" não. Maldito ensino médio!

O twitt em questão é um link para uma história do Tio Patinhas chamada "O Sonho de Uma Vida" (de 2002, desenhado por Don Rosa), em que o argumento é exatamente o mesmo do filme "A Origem". Devorei as 26 páginas, e ouso dizer que acho o gibi mais bem resolvido que o filme. Independente disso, a idéia é exatamente a mesma e tão fascinante quanto a do filme. E vendo a maestria do Don Rosa em brincar com os mesmos conceitos que o Nolan (diretor do filme) fez, apenas com uma roupagem adulta, volto a lembrar que tudo é "contação história".

Enfim ... cada vez mais estou certo que pra produzir arte o importante é levar a sério suas referências, gostos e experiências pessoais. Sem tentar ficar imitando e seguindo só aquilo que falam e dizem que é arte "de verdade".

E viva o Tio Patinhas!!!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Cinema, Música, Idiotas, Ladrões e Calda de Chocolate - parte 3

Lendo esse post, uma amiga me recomendou um texto do Contardo Calligaris, que aborda duma maneira diferente, mas com muitos pontos em comum o mesmo tema. Bem interessante! Quem se interessar, tem um blog que compila textos do autor : http://contardocalligaris.blogspot.com.

Quem quiser, pode ler aqui também. Vale a pena!


Adultos infantilizados
26 Novembro 2009


A infantilização do consumidor é peça chave do espírito do capitalismo atual


DURANTE O feriado, nos cinemas, só dava "Lua Nova", de Chris Weitz, "2012", de Roland Emmerich, e "Os Fantasmas de Scrooge", de Robert Zemeckis. Claro, havia outros filmes, mas meio que perdidos na programação.

Imaginemos que você preferisse ler um romance e consultasse a lista dos mais vendidos. Você encontraria cinco títulos de Stephenie Meyer (a autora da saga de vampiros, cujo segundo volume inspira o filme "Lua Nova"), dois volumes dos "Diários do Vampiro", de L. J. Smith, e, no fim, "O Pequeno Príncipe".

Ora, assisti a "Os Fantasmas de Scrooge" (não perderia um filme de Zemeckis, o diretor de "Forrest Gump") e achei excelente; vi de óculos, em 3D, deleitando-me com a atmosfera encantada: como disse uma menina, nevava na sala de cinema. Não vi "Lua Nova", mas gosto da saga de Meyer, sobre a qual escrevi nesta coluna, assim como escrevi sobre o primeiro filme da série, "Crepúsculo". Além disso, aposto que me divertiria com a fantasia catastrófica de "2012"; Emmerich já me divertiu com "Independence Day". Enfim, tenho uma lembrança comovida de "O Pequeno Príncipe".

Então, por que me queixaria dessa preponderância de filmes e livros obviamente infantojuvenis? Não me queixo, apenas constato: nas salas de cinema ou nas livrarias, aparentemente, os adultos devem ser uma pequena minoria, com a exceção, é claro, dos que acompanham suas crianças ou as presenteiam com livros. Estou sendo irônico: é claro que os grandes consumidores de filmes e livros infantojuvenis só podem ser os adultos.

Domingo, um amigo editor me explicava, justamente, que o filé mignon atual são os "crossovers", ou seja, as obras que "atravessam", que seduzem tanto as crianças quanto os adultos. O best-seller e o blockbuster ideais são histórias supostamente para crianças e adolescentes, mas capazes de conquistar os leitores e os espectadores adultos.

Se consultarmos a lista dos livros mais vendidos de não ficção, a conclusão é a mesma. Como assim? Os ensaios não são o domínio reservado e sisudo dos adultos? Artifício: o sucesso dos livros de autoajuda forçou os jornais a separá-los dos de não ficção, mas, de fato, os mais vendidos de não ficção são os livros de autoajuda. Ora, o texto de autoajuda se relaciona com o leitor como com alguém que precisa e prefere ser guiado, orientado, ajudado a pensar, decidir e agir, ou seja, relaciona-se com o leitor como com uma criança.

Pois bem, Benjamin Barber, no seu novo livro, "Consumido - Como o Mercado Corrompe Crianças, Infantiliza Adultos e Engole Cidadãos" (Record), apresenta a infantilização do consumidor não como um acidente cultural momentâneo, mas como a peça chave do espírito do capitalismo contemporâneo.

Barber é convincente e divertido: chegaram os "kidadults", os "criançultos". O drama do dia não é que as crianças sejam alvo do mercado, mas que o mercado esteja transformando os adultos em crianças.

Por que o mercado prefere lidar com "criançultos"? E o que nos predispõe a sermos infantilizados? Uma breve hipótese. Houve, sobretudo a partir da segunda metade do século 20, uma explosão de um tipo especial de amor dos pais pelos filhos, um amor feito de esperanças e expectativas monstruosas (as crianças serão o que quisemos e não conseguimos ser, nada lhes faltará). Esse tipo de amor parental cria consumidores ideais: por exemplo, indivíduos com pouquíssima tolerância à frustração (e alergia à própria ideia de que algo seja difícil ou, pior, impossível) e com uma imperiosa necessidade de satisfação imediata (e alergia a tudo o que posterga: preparação, estudo, reflexão, complexidade, poupança).

Alguém dirá: e daí, qual é o problema? Exemplo. João quer ser rapper na África do Sul e gasta, impulsivamente, o décimo terceiro da mãe na roupa certa para se parecer com seus ídolos. Para ser rapper na África do Sul, talvez fosse mais urgente que ele estudasse inglês seriamente. Mas essa observação poderia entristecer João. Melhor deixá-lo sonhar e confundir sua mascarada com o começo da realização de seu desejo; afinal, ele é feliz assim, não é? Pois é, suposição errada: quem cresce sem nunca se deparar com o impossível ou mesmo com o difícil, acaba, mais cedo mais tarde, vivendo no desespero. Por quê? Simples (como um filme para crianças): ele só consegue atribuir seus fracassos ao que lhe parece ser sua própria impotência.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Cinema, Música, Idiotas, Ladrões e Calda de Chocolate - parte 2

O @LeoJoe comentou o texto de ontem e lembrou desse comediante Stand-Up, que já abordava o assunto de uma forma bem mais divertida, claro.

Não conhecia o cara ainda, adorei e achei que valia postá-lo aqui como complemento!

(dica: clica 2 vezes em cima do vídeo pra abrir a página do YouTube, pq fiquei com preguiça de tentar ajustar o tamanho dele pro blog...)



Vale a pena!

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Cinema, Música, Idiotas, Ladrões e Calda de Chocolate

Muitas vezes acho que os ótimos papos de quinta-feira que nós, @cronistasreunidos, temos toda quinta-feira mereciam ter uma ata oficial, como registro para que pudéssemos consultar no futuro. Sempre que algo me chama a atenção tento fazer isso mentalmente, guardando guardanapos amassados ou até escrevendo textos sobre o assunto (coisa que não faço desde 1931...).

Num desses papos, o @paulo_coelho (o nosso, não o alquimista) comentou (e não lembro se foi idéia dele, ou tinha uma fonte por trás) que a produção cultural começou a se "idiotizar" a partir do momento que foi se voltando massivamente para os jovens. Como trabalho no meio e vivo me questionando sobre o assunto, isso ficou martelando na minha cabeça e comecei a pensar em vários desdobramentos sobre o assunto. Achei, então, que valia a pena botar no "papel".

Vamos lá. Um exemplo : se pegarmos as maiores bilheterias do cinema de 90 para cá, praticamente todos os filmes são direcionados pra uma temática jovem, teenager ou infantil (Piratas do Caribe, Harry Potters, Senhor dos Anéis, filmes de hérois, vampiros, animações e etc.). Mesmo quando falamos do romance de maior sucesso (Titanic), não dá pra se dizer que é um filme complexo (embora eu ache um baita filme).

E foi sempre assim? Não. Já tinha essa impressão, mas dei uma vasculhada nas maiores bilheterias de todos os tempos e isso ficou bem evidente. Dos anos 70 pra trás praticamente todos os filmes grandes e bem sucedidos tinham uma abordagem mais adulta: O Poderoso Chefão, A Primeira Noite de Um Homem, 2001, O Exorcista, Golpe de Mestre, Contatos Imediatos do 3º Grau, Tubarão, Love Story, Aeroporto, etc. Claro que já existiam indícios do que viria pela frente com filmes como Star Wars, mas realmente parece que com o passar dos anos, o cinema foi buscando se "infantilizar" com a falsa premissa de se tornar acessível a todos.

Com a visão que temos hoje é quase surreal imaginar que filmes com a complexidade e profundidade de 2001, A Primeira Noite de Um Homem e O Poderoso Chefão pudessem ser os blockbusters.

Não sei quem foi que fez os produtores acreditarem que adulto não consome tanto cultura quanto os jovens, mas se olharmos a programação de qualquer cinema de shopping esse raciocínio fica evidente.

Essa história toda tem pelo menos dois grandes desdobramentos : 1 - cultural; e 2 - econômico.

1 - Se os produtores de conteúdo cultural pago acreditam que pra ter lucro precisam agradar majoritariamente os jovens, teens e crianças, não tem como se propor produtos mais densos, sérios, experimentais e etc., fora do circuito independente. Isso é triste porque vai se idiotizando, pasteurizando e nivelando por baixo a produção cultural como um todo. Sempre existirão os heróis da resistência, mas a média vai caminhando pra isso;

2 - Usando como exemplo o pessoal da indústria fonográfica que vive chorando pelo leite pirateado, começo a me perguntar se isso já não é resultado de uma armadilha que eles mesmos criaram. Como convencer um adolescente (que vive de mesada) a comprar uma música que ele pode baixar gratuitamente (e ainda vendo umas minas peladas de quebra?) Vejo isso em casa, com minhas sobrinhas. Um dia elas vieram com aquele discurso de lavagem cerebral contra a pirataria de música, e nem perceberam que TODAS as músicas que estavam nos seus MP3 players foram baixadas na Web. Não cabia na cabeça delas que uma música que estava disponível em qualquer Limewire da vida (desde que elas começaram a mexer em computador) era a tal pirataria que os filmes publicitários retratam como "crime hediondo". "Ué? Mas sempre teve pra baixar lá, Tio? Pra que eu vou gastar meu dinheiro com isso?".

Não estou fazendo aqui uma apologia à pirataria, apenas falando que em muitos casos é fato consumado.

Mas quer dizer então que ferrou? Só teremos produtos idiotizados sendo produzido por aí e ninguém mais vai ganhar dinheiro fazendo produto cultural? Também acho que não.

No lado artístico, muitas séries de TV vêm (na minha humilde opinião, queridos amigos...) na contra-mão dessa onda. Tem muita coisa boa, mais séria, mais profunda, e além de tudo fazendo um baita sucesso por aí. House M.D., In Treatment, Mad Man, The Office, Sopranos, são ótimos exemplos ...

No lado financeiro, volto ao exemplo da música (mas acho que se aplica a várias coisas). Sempre apostei que o cara que realmente gosta do assunto e busca qualidade acima de tudo vai pagar por um produto mais caprichado. Não é à toa que jazz e música clássica sempre tiveram sessões à parte nas lojas de CD. E esse público, olha só que loucura, sempre foi adulto. Talvez esse seja o filão. (E se assume que vai ter gente que nunca vai pagar por isso, mesmo. Paciência...)

Enfim ... tudo que disse aqui é apenas um "achismo". Fui juntando uma pitada de premissa boa, com impressões que fui colhendo por aí, mais duas xícaras de reflexão e bati tudo numa noite de inquietação pós-dia-de-trabalho-enfadonho. Se o bolo vai crescer eu não sei, mas que eu gosto de experimentar sem medo, pelo menos nas minhas terras quase inativas, eu gosto.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Premissas, opiniões e discussões

Acho que, na maioria da vezes, as melhores discussões são aquelas que acabam mudando uma opinião sua sobre um assunto. Essa noite tive o prazer de ter uma dessas com o @leojoe.
Como toda boa discussão, essa surgiu com uma boa premissa (criada pelo @krisarruda, ótimo criador de premissas, diga-se de passagem!) : como diretor você preferiria ser maior do que seus filmes ou ter um filme maior do que você?
Desde que fui questionado sobre isso pela primeira vez fiquei com a segunda opção. O @leojoe, o contrário.
Pensava que ter um filme maior do que eu seria minha realização porque sempre sonhei (e isso ainda não mudou!) em criar uma história que entrasse no "consciente coletivo". Algo que forte e interessante o suficiente pra entrar no repertório popular. Sempre usei de exemplo John Hughes ou Robert Zemeckis. Quem não é cinéfilo ou da área, não tem a menor idéia de quem são eles, mas "Curtindo a Vida Adoidado" ou "De Volta Para O Futuro" estão na história de vida de praticamente toda geração que veio com eles. Criar algo assim é o que sempre me fascinou.
O @leojoe, em contrapartida, acha que o diretor que deixa um estilo impregnado na sua obra a ponto de se sobressair a ela, traz uma busca que é mais importante pro cinema. Diretores "genéricos" podem até conseguir fazer um filme maior do que eles, mas não necessariamente serão importantes pra história do cinema. Digamos que os seus bons filmes são praticamente um golpe de sorte. Um exemplo é o Gore Verbinski (tive que googlear o nome dele, pra saber quem era ...), que fez o Piratas do Caribe. Pro @leojoe um filme sensacional, mas que não traz nenhuma marca do diretor.
Depois de mais de uma hora de papo, fui percebendo que minha escolha tinha embutida uma certa ojeriza por tudo que já vi (e continuo vendo) em alguns diretores com quem trabalhei como assistente de direção e ainda hoje como coordenador de 3d e VFX. Uma vaidade desesperada de deixar claro que os filmes foram feitos por eles, manifestada das maneiras mais estúpidas, egoístas e, principalmente, desinteressadas na história a ser contada, que prefiro nem comentar aqui pra não desvirtuar o post.
Ou seja a meu favor, fui concluindo que o diretor que busca ser maior do que a obra, nunca se preocupa tanto com o filme que está fazendo, porque tem uma vaidade egoísta maior por trás.
A favor do @leojoe vem um argumento de outro grande "discutidor", o @paulo_coelho (o Cronistareunido, não o mago), que por trás de uma obra artística de verdade tem sempre a intenção. E como quase toda intenção artística é consequência de alguma obsessão, o diretor sempre preocupado em fazer o filme que se torne maior do que ele, acaba imprimindo um estilo que, por ser realmente legítimo, acaba se sobressaindo aos filmes, no conjunto da obra.
Em resumo : perdi (e ganhei!). Descobri que realmente seria legal me tornar um diretor maior do que meus filmes, porém isso nunca estará no meu controle. Tentar fazer um ótimo filme pura e simplesmente, sim. Se vou conseguir um ou outro, não tenho a menor idéia, porque antes de me tornar um bom diretor ainda preciso trabalhar muito pra me tornar apenas um diretor. E se isso vai chegar ou não, num posso saber ainda, mas venho trabalhando pra isso.
Por ora ... a discussão valeu. E muito!
Obrigado, @krisarruda, @paulo_coelho e @leojoe. Por essas e por outras que o "extreme conversation" é meu esporte preferido!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Música, Mágica e, porque não ... Poesia.

Numa fase em que estou voltando a fazer algumas coisas que me importam muito, vou tentar reiniciar as atividades por aqui.

O vídeo foi dica do Rafael Uyeda, um dos cronistas e companheiro de mágica na época que estudei um pouco essa arte tão fantástica.

O nome do mágico é Shawn Farquhar. Vale a pena parar 3 minutos pra assistir porque diverte, emociona e faz bem.

domingo, 20 de setembro de 2009

Convite a todos

Finalmente nosso livro vai ser lançado!! Esperamos todos lá!!


Pra quem quer saber um pouquinho mais sobre o assunto, aí vai uma amostra!

Segunda metade do século XX. Queimaram os sutiãs e os homens. Como ele não quis pôr o lixo para fora na hora do jogo, o Macho Tradicional foi varrido da sociedade. Em seu lugar, surgiram variantes modernas, como o “Metrossexual” ou os “Artistas Intelectuais Sensíveis”. Mas permanece o mistério: como eles apareceram? Onde se deu o salto evolutivo do Macho Tradicional? Intrigados com estas respostas, nós, Cronistas Reunidos, nos lançamos em uma audaciosa empreitada antropológica.

O resultado é o “Almanaque do Macho Moderno”, um relato da vida selvagem deste elo perdido. Compre o livro e saiba tudo o que descobrimos sobre essa espécie tão interessante. Mas compre agora! Afinal, tudo que é bom dura pouco, especialmente o Macho Moderno.

domingo, 12 de julho de 2009

Rindo com os mestres

Depois de meses longe das minhas terras voltei. O mato está alto como nunca. Apesar do frio da madrugada, resolvi caminhar um pouco por aqui.
Remexendo meus arquivos, tirei o pó dos meus mp3 da PRK-30 e me assustei com o quanto me diverti ouvindo-os, mesmo que pela octagésima nona vez.
Pra quem não sabe, PRK-30 foi o primeiro grande programa de humor do rádio brasileiro. Até onde pesquisei, criado em meados da década de 40 e se tornou um fenômeno de popularidade na década seguinte (quem quiser saber um pouco mais clique aqui).
O mais impressionante é que o programa (transmitido ao vivo) era escrito e protagonizado apenas por 2 locutores, Castro Barbosa (com o personagem Megatério Nababo D'Alicerce) e Lauro Borges (Otelo Trigueiro), que apresentavam notícias, faziam radionovelas, satirizavam programas de auditório, cantavam jingles, e por aí vai.
Pra quebrar o gelo, segue o primeiro exemplo (rapidinho!):

O Humor (com "h" maiúsculo mesmo) deles era assustadoramente rápido e bem feito. Características que considero das mais geniais e ao mesmo tempo traiçoeiras em uma peça cômica. E por que digo isso? Porque muita gente acaba não percebendo piadas geniais. Aliás, acho que esse é um dos karmas da comédia. A comédia "fácil" (mesmo quando bem feita) é desvalorizada porque é aparentemente boba e caricata. A comédia "difícil" acaba passando despercebida porque necessita da atenção e de predisposição do espectador pra ser percebida. Por conta disso, os grandes humoristas só são premiados pelo conjunto da obra (e depois de terem provado por inúmeras vezes que são geniais).
Os dois da PRK-30 conseguiam combinar um pouco dos 2 universos ("fácil" e "difícil"), com uma versatilidade inacreditável e tiradas sensacionais. Quase todas as piadas deles, funcionariam atualmente. Por exemplo, ao parodiar a transmissão de uma corrida de carros na Gávea, Otelo Trigueiro solta - "O dia está ótimo, amigo ouvinte. Chove torrencialmente aqui na Gávea. Tá fresquinho mesmo, epa. Com a chuva a corrida encolheu!!". :-) Bom, né?
Ao mesmo tempo que é um karma, (vou falar isso por experiência própria) acho que uma das coisas mais gratificantes pra que gosta de produzir humor, é perder horas de tempo pensando nos detalhes que talvez poucas pessoas vão perceber. Pensei numa série de exemplos aqui, mas não tem coisa mais chata do mundo do que transcrever piada, e ainda grifando a parte boa! ( algo que eu seria incapaz de fazer aqui, não acham?)
Vou colocar, então, outro trecho deles. Agora um pouquinho maior, mas é a sátira de uma novela, algo que todo mundo no Brasil gosta.

Enfim, amigos. Pra quem estava meses sem falar nada, acho que valeu voltar bem acompanhado dos geniais locutores cariocas.
Espero que vocês "se divirtam-se".
P.S. : Quem quiser saber mais sobre o programa, tem o livro "No AR PRK-30!", de Paulo Perdigão, que conta com 2 Cd's cheios de sketches fantásticas da dupla.


sexta-feira, 22 de maio de 2009

Festa no Chiqueiro!!


Chegar em casa às 02h30 e ter uma camiseta do Palestra personalizada te esperando na porta de casa, é um dos melhores modos (ever-infinito) de se acabar o dia!

Chiqueirôôô-ô-ô!! Chiqueirôôô-ô-ô!! Chiqueirôôô!! Festa no chiqueirôôô!!!!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Miscelânea

Estou numa das fases mais diferentes dos últimos anos da minha vida. Estou trabalhando num projeto que não tem muito prazo pra acabar, então posso dizer que estou tendo a rotina da qual as pessoas chamam de emprego. Estranho, isso. Não disse que é ruim, apenas estranho.
Pessoas entrando na vida, pessoas saindo, pessoas voltando. Praticamente nenhum dos casos eu tenho "controle" sobre. Acho que poucas vezes temos controle disso, na verdade, mas estes casos me parecem mais caóticos do que de costume.
Trabalhei muito, agora estou num ritmo mais comum, voltei a jogar bola regularmente, estou lendo com certa freqüência, quase não estou escrevendo mais. Sei que todos esses acontecimentos são transitórios, espero que uns demorem mais que outros pra acabar.
Descobri que a busca extrema pela liberdade pode te deixar tão preso quanto o tipo de vida que mais te assusta. Agora estou, de novo, praticamente invertendo o rumo das coisas, a mágica vai ser não chegar no extremo oposto e, de novo, sentir a necessidade de inverter tudo.
Nada do que estou escrevendo aqui tem muito sentido, e me sinto dos mais picaretas quando vou escrevendo assim. Mas minhas terras também estão aqui para isso, não? O mato já está alto demais e não posso fazer esse lugar parecer estranho para mim mesmo.
Em breve, espero, volto com algo mais familiar.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Encontrando Minhas Verdades

Não, eu não abandonei o blog.
Sim, eu me descuidei.
Até comecei a preparar outra Fotografia Literal, mas o negócio tá tremendo tanto que fiquei com medo de quebrar a câmera.

Pra tentar cortar um pouco mato dessas terras, vamos lá:

Semana passada li, quase que numa tacada só, "Misto Quente", do Bukowski. No prefácio, o tradutor (Pedro Gonzaga) comenta que este livro se enquadra nas obras que mostram (ou discutem) o momento em que se dá a formação do artista como escritor. Nas palavras dele : "o instante em que o indivíduo toma consciência do seu irreversível não-pertencimento à comunidade, as agruras e as feridas daqueles que enxergam o mundo com outros filtros que não o das pessoas comuns...".

"Irreversível não-pertencimento à comunidade" ... Usando um termo bem acadêmico, acho que foi essa frase que me "encaralhou" completamente. Li o livro quase que na esperança de entender melhor como funciona esse tal "não-pertencimento". Nunca me achei artista, nem algo parecido, mas quanto mais tempo se passa, não tenho a menor dúvida de que vivo em contato constante com esse fenômeno.

Como lidar com isso? Menor idéia ...

Enfim ... o que eu mais gostei do protagonista (Henry Chinaski, um alter-ego do próprio Bukowski) é a maneira crua e sem rodeios com a qual ele lida com a realidade. Assim como o Holden Caulfield (do famoso "Apanhador no Campo de Centeio"), reconhecemos nas palavras deles, nossos pensamentos mais escondidos, quando lidamos com os outros. A diferença é que não temos muita coragem de repetir nada daquilo em voz alta. Pra quem tá achando esse papinho aqui muito PIMBA (Pseudo-Intelectual-Metido-à-Besta-e-Associados) lembro do filme "Closer". Sabe os diálogos entre o Clive Owen e as outras pessoas ? Então ... mais ou menos aquilo. Na cena em que ele interroga a Julia Roberts (que acabou de confessar que o tinha traído), você se torce na cadeira constrangido e incomodado, mas lá no fundo, são exatamente aquelas perguntas que está pensando e querendo fazer.

Voltando ao livro ... acho que vale muito pra qualquer um que sofre a menor sensação de "desenquadramento". Não ... ele não dá nenhuma solução pra lidar com o assunto. Mas ajuda ... primeiro por mostrar que tem (e sempre teve) mais gente sofrendo isso, e de maneiras muito mais contundentes. Segundo, porque dentro da crueza dele, tem momentos bem singelos e inteligentes. Acho muito chato esse lance de fazer citação de grandes escritores, mas quando li o trecho que vou citar daqui a pouco, tive que anotar. Aí vai :

"... encontrar uma verdade pela primeira vez pode ser uma experiência muito divertida. Quando a verdade de outra pessoa fecha com a sua, e parece que aquilo foi escrito só para você, é maravilhoso."

Genial! Isso pra mim define arte!

quarta-feira, 11 de março de 2009

Olééé!!!

Marília Gabriela pergunta pra Hebe Camargo, durante entrevista em homenagem ao Dia Internacional da Mulher (e aos 80 anos da apresentadora), para terminar o programa de forma filosófica:
- Hebe ! Para encerrar, uma palavra, frase ou pensamento que você goste ...

Hebe responde, aparentemente atrapalhada:
- Olha ... eu gosto de .... como é ... como dizem "É dando que ...". Como é? "É dando que ..."

Marília Gabriela socorre a entrevistada:
- Que se recebe!

Hebe sem pestanejar:
-Não! É dando que se engravida!

GÊNIO!!! GÊNIO!!!

P.S.: Descobri na entrevista que a Hebe estava no set no primeiro dia da TV no Brasil. Impressionante...

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Mata-larica!

Não dá pra ver na foto, mas tem requeijão nas bisnaguinhas, pra não ficar tão seco. Importante.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Los Dos Son Fuertes!!!

Numa época em que o politicamente correto e as pesquisas de dinâmica de grupo (mal realizadas e interpretadas) dominam a publicidade (e todo o resto). Um anúncio de Toddy argentino, de mil novecentos e guaraná de ruelha, me fez rir demais!

Taí um jeito bem interessante, e nada argentino, de convencer uma mãe que é melhor comprar Toddy pro seu anjinho!
Eu (torcedor do Nescau) tou pensando seriamente em mudar de time ...

Imagina se existissem órgãos reguladores da publicidade naquela época. Incitar a violência infantil? Cadeira elétrica na certa!!!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Meu filho!!

Não é uma graça?

(lançamento em breve. Eu aviso. Aguardem ...)

Sobre ser sério ... parte 2

A epifania que tive com a frase no post anterior, também me fez pensar um pouco no modo que vejo as coisas.
Um exemplo : trabalho com cinema. Nos últimos anos, consegui sobreviver basicamente na função que desejo me estabelecer e seguir, quem sabe, até o fim da vida : direção.
Pois bem ... Sou cinéfilo? Não. Conheço toda biografia do Glauber, Godard e etc.? Não, longe disso ... Conheço muita gente que nem trabalha na área e que vê mais filmes que eu, que discute cinema com muito mais seriedade e preocupação do que eu. Quer dizer então, que eu sou um profissional relapso? Talvez ... Mas toda vez que vejo pessoas falando sobre cinema, com teorias mirabolantes, discussões sobre significados, símbolos e por aí vai; não consigo acreditar muito naquilo tudo. Principalmente porque em 99% das vezes, o que se discute são suposições que só poderiam ser confirmadas na presença do diretor e do roteirista.
Mais que o resultado final, me interesso pelo meio do caminho. O que me fascina mesmo é o processo criativo. Nunca fui muito de querer entender o que os grandes gênios (de qualquer área) fazem. Quando percebo, estou tentando entender como eles pensavam. E nesse ponto, não interessa qual é a área de atuação. Qualquer tipo de arte pode ser uma aula (no meu caso) de cinema.
Ainda assim, um bom jeito de se entender esse processo no cinema, é não ver tantos filmes uma só vez, mas sim, alguns filmes que realmente te fascinam, muitas vezes. Já diria um professor que tive :"quem vê muitos filmes uma vez é crítico, cineastas assistem poucos e bons filmes muitas vezes".

No post anterior, comentei que a frase "mágica" que o John Updike disse, veio numa entrevista. E é disso que estou falando. Às vezes, é muito mais interessante saber como um artista (de verdade!) pensa seu trabalho, do que o trabalho em si.
Seguindo essa lógica, uma das maiores aulas de cinema que tive, foi quando dirigi o documentário da gravação do último disco do IRA! (Invisível DJ). Participei do último ensaio deles antes de entrarem no estúdio e depois, por 2 meses, acompanhei diariamente a rotina de arranjo e gravação de todas as músicas, além da composição de mais duas músicas que surgiram durante as gravações. O filme mostra 1/10 do que foi a experiência. Ver caras do gabarito do Edgard Scandurra, trabalhando numa música, de forma objetiva, concreta e tangível me fez entender (mais uma vez) o quanto o processo criativo é pouco glamouroso e muito trabalhoso. As discussões que os integrantes tinham para decidir um trecho de uma letra, uma batida ou uma linha de baixo, eram discussões de trabalho. Nada de "pirações" artísticas e malucas como se idealiza por aí. E cada vez que eu presenciava momentos desses, pensava nos críticos "especializados" e gente que fica inventando as maiores atrocidades pra explicar tudo, menos o que realmente foi pensado na hora da criação artística.
Acho que ao se levar menos a sério, você acaba desmistificando bastante o processo, e acaba se dedicando aos elementos que vão fazer o trabalho realmente especial, diferente ou se preferir "artístico".
Pra concluir, quando se fala em desmistificação do processo criativo, minha recomendação maior é um documentário chamado "The Comedian - Os Bastidores da Comédia", onde Jerry Seinfeld escancara o seu processo de criação de um show de Stand Up Comedy, sem o menor pudor. Pouquíssima diversão e muito, muito, mas muito trabalho.

(como já está virando tradição nessas terras, aqui vai mais um video engraçadinho. O trailer desse documentário. Também genial!)

Sobre ser sério ... parte 1

Não sou muito fã de citações. "Alta literatura" e poesia são coisas que eu respeito demais, gosto moderadamente, mas definitivamente não é onde me sinto verdadeiramente confortável. Talvez por ser um escritor/artista em formação, talvez pelo meu jeito de ver as coisas mesmo.
Li uma vez o Mario Prata comentando que não escrevia textos sérios porque não se levava suficientemente a sério, sendo sério. Toda vez que arriscava algo do tipo, se considerava uma fraude. Sinto isso também. Mas sinto isso de uma forma mais abrangente. Me sinto uma fraude quando me levo muito à sério sobre qualquer coisa.
Não é à toa que vejo no humor a forma mais interessante de questionamento e protesto. (segue um exemplo disso, que gosto "só um pouquinho". Pra quem não conhece, Monty Python é o nome desses caras).

Mas ... isso não quer dizer que eu menospreze ou não queira gostar de coisas mais sérias.
Essa semana li sobre a morte do escritor John Updike. Não conhecia nada sobre ele. Porém duas pessoas que admiro bastante citaram a perda com grande pesar e, por conta disso, resolvi investigar um pouquinho. Ainda não conheço nada dele, mas nessa pesquisa li uma frase que me arrebatou : "É no meio que os extremos entram em choque, onde a ambiguidade reina inquietamente".
Poucas coisas que li (e isso não foi escrito numa obra dele, mas sim, falado numa entrevista) me confortaram tanto.
É isso! Raramente tenho comportamento extremista, porém sempre odiei a idéia (da maioria) de que o meio-termo é "morno". É no meio-termo que eu vivo, e posso garantir que não é um lugar nem um pouco tranquilo e pacífico, amigos.
Li essa frase há 3 dias, e ela não me sai da cabeça. Poucos e fantásticos são os momentos em que você tem um entendimento desse tipo sobre si. Tive essa sorte e não é que, ainda completamente leigo sobre sua obra, me uni no pesar da morte do escritor americano?
Bom descanso, meu caro John!
Enfim ... agora sem nenhuma culpa de estar no meio : entre a "alta literatura" e programas de TV idiotas, eu vou me encontrando.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Aforismo (coisa de quem fica à toa)

Um artista nada mais é do que um viabilizador de idéias. Sua ferramenta é a técnica.