segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Exercício de Estilo 01 - "O Duelo" - Corrigido

Bom ... o primeiro exercício foi bem! Malu elogiou bastante e fez pequenas considerações (uma sobre o texto mesmo, outras poucas de gramática). Estou colando o exercício corrigido aqui (com os trechos alterados em BOLD), pra efeito de comparação. E vamo que vamo!

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De um lado vinha eu, olhando fixo para o chão. Mania que sempre eu tive. Caminhava há quase uma hora. O carro estava na revisão e decidi voltar do trabalho pra casa a pé. Sempre gostei de caminhar olhando para o chão. Ao contrário do que muitos pensam, sempre vi este hábito como um ato de coragem. Olhando para o chão não sobram muitas alternativas se não pensar. As pessoas têm medo disso. Uma coisa que sempre me incomodou é ver gente que não se sente confortável ao ver outras, sozinhas, pensando. Pior do que não se sentir confortável é interromper estalando os dedos, batendo palma ou coisa parecida, com alguma frase do tipo “Acorda!! Esse vive com a cabeça na Lua!”. Considero isso pobreza de espírito. Era justamente sobre isso que eu pensava.

De outro lado vinha ela. Droga! Tinha de ser justo ela? Seis meses se passaram e eu ainda não estava preparado pra encontrá-la. Um dia estaria ? Bom, isso não era coisa pra se pensar naquela hora. Faltavam poucos passos pro encontro se tornar indisfarçável. O que mais me assombrava é que eu sabia que era ela sem precisar levantar a cabeça. O ritmo do salto batendo no chão foi o que me fez reconhecê-la. Mais de 3 bilhões de mulheres, e ela conseguiu desenvolver um batuque ao andar que mais ninguém sabia fazer. Será que alguém, além de mim, tinha o dom de reconhecer esta melodia? Tlec, tlec, tlec, cada vez mais alto. E agora?

Era uma chance pra mostrar que tudo estava bem. Ou o momento perfeito, para que, então, sem discurso preparado, eu dissesse tudo que sempre quis. Sem freios, sem pensar, só dizer. Dois passos. Não restavam mais que dois passos para que o duelo começasse. Então levantei a cabeça, e ... nada disse. Apenas continuei andando.

Sentei-me. Precisava de fôlego. Não foi covardia, medo, timidez ou qualquer sentimento desses que impedem a gente de fazer o que gostaria, que me fizeram calar. Ao levantar a cabeça, descobri que a dona daqueles passos não eram Ela. Outra mulher, qualquer uma. Nem bonita era, e andava produzindo o mesmo som Dela. Aquele som que me fazia sentir tão especial por ser o único a reconhecê-lo. Fôlego recomposto. Passou. Voltei a caminhar olhando fixo para o chão.

(Tirado de SANT’ANNA, Sérgio, “O Duelo”. In Contos e novelas reunidos, São Paulo, Companhia das Letras, 1997)

domingo, 23 de janeiro de 2011

Exercício de Estilo 01 - "O Duelo"

Depois de muitos anos maltratando meu gosto pela escrita, resolvi mudar um pouco essa história. Por conta dum projeto literário emperrado há uns 5 anos, encontrei uma "mentora" (Dona Malu) que está me fazendo voltar a estudar (algo que precisava fazer há anos), e agora começa a me provocar, dando pequenos exercícios pra exercitar os recursos que uso menos, quando escrevo minhas bobagens. Aí vai o primeiro (ainda sem comentários da pssora!).


Exercício 01

Criação de um conto ou crônica a partir de um esquema inicial


Use os inícios de parágrafos como eixo inicial de uma crônica/conto, em que a percepção de detalhes descritivos iniciais encaminhem a história (e/ou reflexões).

1 –

De um lado vinha eu (de onde? desde quando?), olhando fixo para ...

De um lado vinha eu, olhando fixo para o chão. Mania que sempre eu tive. Caminhava há quase uma hora. O carro estava na revisão e decidi ir voltar do trabalho para casa a pé. Sempre gostei de caminhar olhando para o chão. Ao contrário do que muitos pensam, sempre vi este hábito como um ato de coragem. Olhando para o chão não sobram muitas alternativas senão pensar. As pessoas têm medo disso. Uma coisa que sempre me incomodou é ver gente que não se sente confortável ao ver outras, sozinhas, pensando. Pior do que não se sentir confortável é interromper estalando os dedos, batendo palma ou coisa parecida, com alguma frase do tipo “Acorda!! Esse vive com a cabeça na Lua!”. Considero isso pobreza de espírito. Era justamente sobre isso que eu pensava.

De outro lado estava ele (ela) ......

De outro lado vinha ela. Droga! Tinha de ser justo ela? Seis meses se passaram e eu ainda não estava preparado pra encontrá-la. Será que um dia estaria ? Bom, isso não era coisa pra se pensar naquela hora. Faltavam poucos passos pro encontro se tornar indisfarçável. O que mais me assombrava, é que eu sabia que era ela sem precisar levantar a cabeça. O ritmo do salto batendo no chão foi o que me fez reconhecê-la. Mais de 3 bilhões de mulheres, e ela conseguiu desenvolver um batuque ao andar que mais ninguém sabia fazer. Será que alguém, além de mim, tinha o dom de reconhecer essa melodia? Tlec, tlec, tlec, cada vez mais alto. E agora?

Era um (uma) ......

Era uma chance pra mostrar que tudo estava bem. Ou o momento perfeito, para que então, sem discurso preparado, eu dissesse tudo que sempre quis. Sem freios, sem pensar, só dizer. Dois passos. Não restavam mais que dois passos para que o duelo começasse. Então levantei a cabeça, e ... nada disse. Apenas continuei andando.

Sentei-me ......

Sentei-me. Precisava de fôlego. Não foi covardia, medo, timidez ou qualquer sentimento desses que impedem a gente de fazer o que gostaria, que me fizeram calar. Ao levantar a cabeça, descobri que a dona daqueles passos não eram Ela. Outra mulher, qualquer uma. Nem bonita era, e andava produzindo o mesmo som Dela. Aquele som que me fazia sentir tão especial por ser o único a reconhecê-lo. Fôlego recomposto. Passou. Voltei a caminhar olhando fixo para o chão.

(Tirado de SANT’ANNA, Sérgio, “O Duelo”. In Contos e novelas reunidos, São Paulo, Companhia das Letras, 1997)