segunda-feira, 10 de maio de 2010

Premissas, opiniões e discussões

Acho que, na maioria da vezes, as melhores discussões são aquelas que acabam mudando uma opinião sua sobre um assunto. Essa noite tive o prazer de ter uma dessas com o @leojoe.
Como toda boa discussão, essa surgiu com uma boa premissa (criada pelo @krisarruda, ótimo criador de premissas, diga-se de passagem!) : como diretor você preferiria ser maior do que seus filmes ou ter um filme maior do que você?
Desde que fui questionado sobre isso pela primeira vez fiquei com a segunda opção. O @leojoe, o contrário.
Pensava que ter um filme maior do que eu seria minha realização porque sempre sonhei (e isso ainda não mudou!) em criar uma história que entrasse no "consciente coletivo". Algo que forte e interessante o suficiente pra entrar no repertório popular. Sempre usei de exemplo John Hughes ou Robert Zemeckis. Quem não é cinéfilo ou da área, não tem a menor idéia de quem são eles, mas "Curtindo a Vida Adoidado" ou "De Volta Para O Futuro" estão na história de vida de praticamente toda geração que veio com eles. Criar algo assim é o que sempre me fascinou.
O @leojoe, em contrapartida, acha que o diretor que deixa um estilo impregnado na sua obra a ponto de se sobressair a ela, traz uma busca que é mais importante pro cinema. Diretores "genéricos" podem até conseguir fazer um filme maior do que eles, mas não necessariamente serão importantes pra história do cinema. Digamos que os seus bons filmes são praticamente um golpe de sorte. Um exemplo é o Gore Verbinski (tive que googlear o nome dele, pra saber quem era ...), que fez o Piratas do Caribe. Pro @leojoe um filme sensacional, mas que não traz nenhuma marca do diretor.
Depois de mais de uma hora de papo, fui percebendo que minha escolha tinha embutida uma certa ojeriza por tudo que já vi (e continuo vendo) em alguns diretores com quem trabalhei como assistente de direção e ainda hoje como coordenador de 3d e VFX. Uma vaidade desesperada de deixar claro que os filmes foram feitos por eles, manifestada das maneiras mais estúpidas, egoístas e, principalmente, desinteressadas na história a ser contada, que prefiro nem comentar aqui pra não desvirtuar o post.
Ou seja a meu favor, fui concluindo que o diretor que busca ser maior do que a obra, nunca se preocupa tanto com o filme que está fazendo, porque tem uma vaidade egoísta maior por trás.
A favor do @leojoe vem um argumento de outro grande "discutidor", o @paulo_coelho (o Cronistareunido, não o mago), que por trás de uma obra artística de verdade tem sempre a intenção. E como quase toda intenção artística é consequência de alguma obsessão, o diretor sempre preocupado em fazer o filme que se torne maior do que ele, acaba imprimindo um estilo que, por ser realmente legítimo, acaba se sobressaindo aos filmes, no conjunto da obra.
Em resumo : perdi (e ganhei!). Descobri que realmente seria legal me tornar um diretor maior do que meus filmes, porém isso nunca estará no meu controle. Tentar fazer um ótimo filme pura e simplesmente, sim. Se vou conseguir um ou outro, não tenho a menor idéia, porque antes de me tornar um bom diretor ainda preciso trabalhar muito pra me tornar apenas um diretor. E se isso vai chegar ou não, num posso saber ainda, mas venho trabalhando pra isso.
Por ora ... a discussão valeu. E muito!
Obrigado, @krisarruda, @paulo_coelho e @leojoe. Por essas e por outras que o "extreme conversation" é meu esporte preferido!

2 comentários:

Kris Arruda disse...

Muito boa a discussão.

Unknown disse...

Concordo que é ótimo quando nos fazem novas perguntas para as nossas velhas argumentações... ;-) Sobre "o criador estar ou não acima da obra", acho que bons (e maus) homens se tornam "maiores" que a obra em si, quando conseguem repetir um sucesso, duas, vinte, duzentas vezes. Quantos artistas trabalharam a exaustão? Aleijadinho esculpia, sem os dedos das mãos, o outro que eu não lembro o nome, já cego continuava compondo, enfim... são muitos. Acho que a palavra é: persistência - com uma pitadinha (ou uma dose dupla) de loucura ;-)
Saudades de vc!