segunda-feira, 30 de março de 2009

Encontrando Minhas Verdades

Não, eu não abandonei o blog.
Sim, eu me descuidei.
Até comecei a preparar outra Fotografia Literal, mas o negócio tá tremendo tanto que fiquei com medo de quebrar a câmera.

Pra tentar cortar um pouco mato dessas terras, vamos lá:

Semana passada li, quase que numa tacada só, "Misto Quente", do Bukowski. No prefácio, o tradutor (Pedro Gonzaga) comenta que este livro se enquadra nas obras que mostram (ou discutem) o momento em que se dá a formação do artista como escritor. Nas palavras dele : "o instante em que o indivíduo toma consciência do seu irreversível não-pertencimento à comunidade, as agruras e as feridas daqueles que enxergam o mundo com outros filtros que não o das pessoas comuns...".

"Irreversível não-pertencimento à comunidade" ... Usando um termo bem acadêmico, acho que foi essa frase que me "encaralhou" completamente. Li o livro quase que na esperança de entender melhor como funciona esse tal "não-pertencimento". Nunca me achei artista, nem algo parecido, mas quanto mais tempo se passa, não tenho a menor dúvida de que vivo em contato constante com esse fenômeno.

Como lidar com isso? Menor idéia ...

Enfim ... o que eu mais gostei do protagonista (Henry Chinaski, um alter-ego do próprio Bukowski) é a maneira crua e sem rodeios com a qual ele lida com a realidade. Assim como o Holden Caulfield (do famoso "Apanhador no Campo de Centeio"), reconhecemos nas palavras deles, nossos pensamentos mais escondidos, quando lidamos com os outros. A diferença é que não temos muita coragem de repetir nada daquilo em voz alta. Pra quem tá achando esse papinho aqui muito PIMBA (Pseudo-Intelectual-Metido-à-Besta-e-Associados) lembro do filme "Closer". Sabe os diálogos entre o Clive Owen e as outras pessoas ? Então ... mais ou menos aquilo. Na cena em que ele interroga a Julia Roberts (que acabou de confessar que o tinha traído), você se torce na cadeira constrangido e incomodado, mas lá no fundo, são exatamente aquelas perguntas que está pensando e querendo fazer.

Voltando ao livro ... acho que vale muito pra qualquer um que sofre a menor sensação de "desenquadramento". Não ... ele não dá nenhuma solução pra lidar com o assunto. Mas ajuda ... primeiro por mostrar que tem (e sempre teve) mais gente sofrendo isso, e de maneiras muito mais contundentes. Segundo, porque dentro da crueza dele, tem momentos bem singelos e inteligentes. Acho muito chato esse lance de fazer citação de grandes escritores, mas quando li o trecho que vou citar daqui a pouco, tive que anotar. Aí vai :

"... encontrar uma verdade pela primeira vez pode ser uma experiência muito divertida. Quando a verdade de outra pessoa fecha com a sua, e parece que aquilo foi escrito só para você, é maravilhoso."

Genial! Isso pra mim define arte!

3 comentários:

Kris Arruda disse...

Essa "solidariedade" ajuda demais mesmo. Assim que terminar de ler a vida do FDP do John Casablanca vou pedir emprestado esse aí...

Natália Maia disse...

Adorei o blog...

uma garota disse...

fiquei com vontade de ler.
li Bukowski quando tinha uns 11 ou 12.
abriu na minha cabeça 1 milhão de possibilidades, diferentes daquelas dos filmes e novelas que eu já conhecia.
li escondida. talvez também isso tenha sido algo que me fez curtir ainda mais. não tinha que explicar pra ninguém o que estava achando, nem pq lia, nem nada. eramos só ele, eu e as Mulheres.