sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Sobre ser sério ... parte 2

A epifania que tive com a frase no post anterior, também me fez pensar um pouco no modo que vejo as coisas.
Um exemplo : trabalho com cinema. Nos últimos anos, consegui sobreviver basicamente na função que desejo me estabelecer e seguir, quem sabe, até o fim da vida : direção.
Pois bem ... Sou cinéfilo? Não. Conheço toda biografia do Glauber, Godard e etc.? Não, longe disso ... Conheço muita gente que nem trabalha na área e que vê mais filmes que eu, que discute cinema com muito mais seriedade e preocupação do que eu. Quer dizer então, que eu sou um profissional relapso? Talvez ... Mas toda vez que vejo pessoas falando sobre cinema, com teorias mirabolantes, discussões sobre significados, símbolos e por aí vai; não consigo acreditar muito naquilo tudo. Principalmente porque em 99% das vezes, o que se discute são suposições que só poderiam ser confirmadas na presença do diretor e do roteirista.
Mais que o resultado final, me interesso pelo meio do caminho. O que me fascina mesmo é o processo criativo. Nunca fui muito de querer entender o que os grandes gênios (de qualquer área) fazem. Quando percebo, estou tentando entender como eles pensavam. E nesse ponto, não interessa qual é a área de atuação. Qualquer tipo de arte pode ser uma aula (no meu caso) de cinema.
Ainda assim, um bom jeito de se entender esse processo no cinema, é não ver tantos filmes uma só vez, mas sim, alguns filmes que realmente te fascinam, muitas vezes. Já diria um professor que tive :"quem vê muitos filmes uma vez é crítico, cineastas assistem poucos e bons filmes muitas vezes".

No post anterior, comentei que a frase "mágica" que o John Updike disse, veio numa entrevista. E é disso que estou falando. Às vezes, é muito mais interessante saber como um artista (de verdade!) pensa seu trabalho, do que o trabalho em si.
Seguindo essa lógica, uma das maiores aulas de cinema que tive, foi quando dirigi o documentário da gravação do último disco do IRA! (Invisível DJ). Participei do último ensaio deles antes de entrarem no estúdio e depois, por 2 meses, acompanhei diariamente a rotina de arranjo e gravação de todas as músicas, além da composição de mais duas músicas que surgiram durante as gravações. O filme mostra 1/10 do que foi a experiência. Ver caras do gabarito do Edgard Scandurra, trabalhando numa música, de forma objetiva, concreta e tangível me fez entender (mais uma vez) o quanto o processo criativo é pouco glamouroso e muito trabalhoso. As discussões que os integrantes tinham para decidir um trecho de uma letra, uma batida ou uma linha de baixo, eram discussões de trabalho. Nada de "pirações" artísticas e malucas como se idealiza por aí. E cada vez que eu presenciava momentos desses, pensava nos críticos "especializados" e gente que fica inventando as maiores atrocidades pra explicar tudo, menos o que realmente foi pensado na hora da criação artística.
Acho que ao se levar menos a sério, você acaba desmistificando bastante o processo, e acaba se dedicando aos elementos que vão fazer o trabalho realmente especial, diferente ou se preferir "artístico".
Pra concluir, quando se fala em desmistificação do processo criativo, minha recomendação maior é um documentário chamado "The Comedian - Os Bastidores da Comédia", onde Jerry Seinfeld escancara o seu processo de criação de um show de Stand Up Comedy, sem o menor pudor. Pouquíssima diversão e muito, muito, mas muito trabalho.

(como já está virando tradição nessas terras, aqui vai mais um video engraçadinho. O trailer desse documentário. Também genial!)

Um comentário:

Unknown disse...

Eu, como jornalista, tb não li todas as obras necessárias, e sei que há mto mais pessoas não letradas que sabem mais que eu por vivência, experiência e não por diploma.
Nossa! Arrasou com o clipe do Ira! Amo a banda!

bj