A epifania que tive com a frase no post anterior, também me fez pensar um pouco no modo que vejo as coisas. Um exemplo : trabalho com cinema. Nos últimos anos, consegui sobreviver basicamente na função que desejo me estabelecer e seguir, quem sabe, até o fim da vida : direção. Pois bem ... Sou cinéfilo? Não. Conheço toda biografia do Glauber, Godard e etc.? Não, longe disso ... Conheço muita gente que nem trabalha na área e que vê mais filmes que eu, que discute cinema com muito mais seriedade e preocupação do que eu. Quer dizer então, que eu sou um profissional relapso? Talvez ... Mas toda vez que vejo pessoas falando sobre cinema, com teorias mirabolantes, discussões sobre significados, símbolos e por aí vai; não consigo acreditar muito naquilo tudo. Principalmente porque em 99% das vezes, o que se discute são suposições que só poderiam ser confirmadas na presença do diretor e do roteirista. Mais que o resultado final, me interesso pelo meio do caminho. O que me fascina mesmo é o processo criativo. Nunca fui muito de querer entender o que os grandes gênios (de qualquer área) fazem. Quando percebo, estou tentando entender como eles pensavam. E nesse ponto, não interessa qual é a área de atuação. Qualquer tipo de arte pode ser uma aula (no meu caso) de cinema. Ainda assim, um bom jeito de se entender esse processo no cinema, é não ver tantos filmes uma só vez, mas sim, alguns filmes que realmente te fascinam, muitas vezes. Já diria um professor que tive :"quem vê muitos filmes uma vez é crítico, cineastas assistem poucos e bons filmes muitas vezes".
No post anterior, comentei que a frase "mágica" que o John Updike disse, veio numa entrevista. E é disso que estou falando. Às vezes, é muito mais interessante saber como um artista (de verdade!) pensa seu trabalho, do que o trabalho em si. Seguindo essa lógica, uma das maiores aulas de cinema que tive, foi quando dirigi o documentário da gravação do último disco do IRA! (Invisível DJ). Participei do último ensaio deles antes de entrarem no estúdio e depois, por 2 meses, acompanhei diariamente a rotina de arranjo e gravação de todas as músicas, além da composição de mais duas músicas que surgiram durante as gravações. O filme mostra 1/10 do que foi a experiência. Ver caras do gabarito do Edgard Scandurra, trabalhando numa música, de forma objetiva, concreta e tangível me fez entender (mais uma vez) o quanto o processo criativo é pouco glamouroso e muito trabalhoso. As discussões que os integrantes tinham para decidir um trecho de uma letra, uma batida ou uma linha de baixo, eram discussões de trabalho. Nada de "pirações" artísticas e malucas como se idealiza por aí. E cada vez que eu presenciava momentos desses, pensava nos críticos "especializados" e gente que fica inventando as maiores atrocidades pra explicar tudo, menos o que realmente foi pensado na hora da criação artística. Acho que ao se levar menos a sério, você acaba desmistificando bastante o processo, e acaba se dedicando aos elementos que vão fazer o trabalho realmente especial, diferente ou se preferir "artístico". Pra concluir, quando se fala em desmistificação do processo criativo, minha recomendação maior é um documentário chamado "The Comedian - Os Bastidores da Comédia", onde Jerry Seinfeld escancara o seu processo de criação de um show de Stand Up Comedy, sem o menor pudor. Pouquíssima diversão e muito, muito, mas muito trabalho.
(como já está virando tradição nessas terras, aqui vai mais um video engraçadinho. O trailer desse documentário. Também genial!)
Não sou muito fã de citações. "Alta literatura" e poesia são coisas que eu respeito demais, gosto moderadamente, mas definitivamente não é onde me sinto verdadeiramente confortável. Talvez por ser um escritor/artista em formação, talvez pelo meu jeito de ver as coisas mesmo. Li uma vez o Mario Prata comentando que não escrevia textos sérios porque não se levava suficientemente a sério, sendo sério. Toda vez que arriscava algo do tipo, se considerava uma fraude. Sinto isso também. Mas sinto isso de uma forma mais abrangente. Me sinto uma fraude quando me levo muito à sério sobre qualquer coisa. Não é à toa que vejo no humor a forma mais interessante de questionamento e protesto. (segue um exemplo disso, que gosto "só um pouquinho". Pra quem não conhece, Monty Python é o nome desses caras).
Mas ... isso não quer dizer que eu menospreze ou não queira gostar de coisas mais sérias. Essa semana li sobre a morte do escritor John Updike. Não conhecia nada sobre ele. Porém duas pessoas que admiro bastante citaram a perda com grande pesar e, por conta disso, resolvi investigar um pouquinho. Ainda não conheço nada dele, mas nessa pesquisa li uma frase que me arrebatou : "É no meio que os extremos entram em choque, onde a ambiguidade reina inquietamente". Poucas coisas que li (e isso não foi escrito numa obra dele, mas sim, falado numa entrevista) me confortaram tanto. É isso! Raramente tenho comportamento extremista, porém sempre odiei a idéia (da maioria) de que o meio-termo é "morno". É no meio-termo que eu vivo, e posso garantir que não é um lugar nem um pouco tranquilo e pacífico, amigos. Li essa frase há 3 dias, e ela não me sai da cabeça. Poucos e fantásticos são os momentos em que você tem um entendimento desse tipo sobre si. Tive essa sorte e não é que, ainda completamente leigo sobre sua obra, me uni no pesar da morte do escritor americano? Bom descanso, meu caro John! Enfim ... agora sem nenhuma culpa de estar no meio : entre a "alta literatura" e programas de TV idiotas, eu vou me encontrando.
2008 foi um ano bem significativo pra mim. Sobretudo por ter tido 365 dias. Não é fácil conseguir uma sequência dessas, um dia após o outro, sem interrupções. Afora esta imprescindível questão, 2008 foi um ano revelador. O fato de morar sozinho não me trouxe nenhum trauma ou experiência avassaladora. Sempre me considerei ótima companhia e nunca tive muitos problemas em me encarar sozinho numa noite qualquer. Isso não quer dizer que eu me considere auto-suficiente (com hífen, foda-se). Mas como diria o grande filósofo contemporâneo Roger Moreira alguém só pode se entregar, sabendo se amar, não é? Neste quesito, acho que estou bem. Voltando às revelações do ano. Tem uma diferença enorme entre prova e convencimento. Um grande professor que tive na ECA me ensinou isso numa aula de retórica. Você pode provar um ponto para uma pessoa, usando a lógica e a racionalidade, e ainda assim ela não se convencer dessa questão. Contra provas não há argumentos, mas não existe argumento definitivo que convença alguém que não queira ser convencido de uma prova. Sempre soube que as coisas levam mais tempo do que gostaríamos pra acontecer. Até pouco tempo atrás, não me convencia muito disso. Mas nesse ano comecei a entender essa tese de forma mais clara. Algum momento-chave que me causou essa mudança? Não. Acho que o tempo e muita reflexão sobre vida pessoal, social e profissional. Ao longo do ano, devo escrever posts por aqui que ajudem a pontuar isso de forma mais clara. Que mais? Seguindo a lógica do post abaixo, me tornei uma pessoa pior. Ainda não sei se considero isso bom ou mau, mas é fato que aconteceu. Sei bem que não é isso que eu quero, mas não posso negar que tive bons momentos sendo assim. E 2009 ? Bom ... comecei o ano essa semana. Sem dúvida estou mais tranquilo ... começo tentando levar a vida de um modo um pouco mais prático e menos filosófico. Se tivesse sendo entrevistado pela Marilia Gabriela e tivesse que responder em uma palavra o que pretendo pra esse ano é "simplificar". Vamos ver se eu consigo. Desculpem o abandono momentâneo das minhas terras. Tem muita coisa que quero contar por aqui, mas ainda estou esperando a hora certa. Agora vou cuidar do mato que tá crescendo do outro lado. Feliz 2009!
... é um cara legal. Nascido em 1º de Abril de 1979, era goleiro na infância, resolveu ir pra linha a partir da 8ª série, mas queria mesmo ser piloto de corrida. Formado 2 vezes em publicidade é canhoto, palmeirense, cronista, contador de histórias, observador compulsivo, péssimo em cambalhotas e ótimo ouvinte.
Por hora é só.