Não vou fazer aqui uma comparação musical teórica e complexa sobre as 2 divas porque não sou especialista no assunto (quem quiser saber críticas desse tipo aconselho o www.allmusic.com ). Vou apenas contar impressões e recomendar. Como amigos costumam fazer.
Preparei uma playlist pra mostrar um pouco da "pegada" de cada uma delas e recomendo que você vá ouvindo enquanto lê sobre cada música apresentada.
A lista começa com 2 versões da mesma música (Don’t Smoke in Bed), interpretada pelas duas. É só ouví-las e fica muito claro o quanto a Nina é passional e dramática enquanto Julie é fatal e lasciva.
Agora vamos entender um pouquinho de cada uma:
Em cada música que eu ouço com Nina Simone, sou quase tele-transportado pros locais que a letra descrevem. Pra mim, ela é a cantora que melhor interpreta uma canção transmitindo exatamente o que a letra pede. Como uma grande atriz. “Four Women” mostra claramente essa capacidade interpretativa. Como diz o nome, ela canta uma breve biografia de 4 mulheres diferentes : uma negra, uma oriental, uma branca e uma morena (na verdade a primeira é “black” e a quarta é “brown”). Dá pra se “ver” cada mulher ao se escutar a canção. Todas histórias são tristes e fortes. Aliás a maioria das canções dela tem algum tipo de engajamento (social, étnico, etc.). Li num outro site (não achei o nome ...) que ela nunca gostou de ser classificada num estilo, ela dizia que cantava “Classic Black Music”.
Mas, como disse antes, o que mais me impressiona na Nina Simone é a capacidade de dar o tom certo pra cada música. Pra mostrar essa capacidade, e também pra não deixar um ranço pimba (pseudo-intelectual-metido-a-besta-e-associados) neste post, vou mostrar uma das primeiras músicas que ouvi dela. Bonitinha, “fofa” e pra cima : “My Baby Just Cares for Me”. Trilha perfeita para um dia fantástico!
Na seqüência, duas músicas pra ajudar a entender a Julie London.
Pra começo de conversa ela era loira, linda e com uma voz de enlouquecer qualquer homem que não freqüente “A Lôca”. Ao contrário das Mariah Careys da vida, cada palavra falada por Julie está no tempo e volume certo pra te deixar completamente inebriado.Ela é daquelas pessoas que sabem tanto do seu poder de destruição que só insinuam do que são capazes. O estrago fica na sua imaginação. Sedutora compulsiva, no final da década de 50 já cantava coisas do tipo: “me beije um pouquinho aqui, outro pouquinho ali, tipo à la carte”, sem o menor constrangimento. Esse trecho está na música que eu coloquei aqui chamada “Go Slow”. Como golpe de misericórdia, no final da canção, ela apela e sussura “You make me feel so good”. Confesso que na primeira vez que ouvi esse trecho quase bati o carro.
A música seguinte se chama “Daddy” e é mais animadinha, pra mostrar o swing da moça com orquestra, contra-baixo acústico e tudo que ela tem direito.
Me recusei a colocar o título desse post como “Nina Simone X Julie London” porque nunca ousaria a compará-las ou ainda tentar definir qual é melhor cantora (sacrilégio!). Cada uma tem seu estilo, sua função no Mundo e sua graça. Pra mim, música é momento, portanto (quase) não existe música boa ou ruim, existe sim momento certo ou errado se ouvir uma música, apenas isso.
Ouçam e aproveitem!