Bom ... o primeiro exercício foi bem! Malu elogiou bastante e fez pequenas considerações (uma sobre o texto mesmo, outras poucas de gramática). Estou colando o exercício corrigido aqui (com os trechos alterados em BOLD), pra efeito de comparação. E vamo que vamo!
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De um lado vinha eu, olhando fixo para o chão. Mania que sempre eu tive. Caminhava há quase uma hora. O carro estava na revisão e decidi voltar do trabalho pra casa a pé. Sempre gostei de caminhar olhando para o chão. Ao contrário do que muitos pensam, sempre vi este hábito como um ato de coragem. Olhando para o chão não sobram muitas alternativas se não pensar. As pessoas têm medo disso. Uma coisa que sempre me incomodou é ver gente que não se sente confortável ao ver outras, sozinhas, pensando. Pior do que não se sentir confortável é interromper estalando os dedos, batendo palma ou coisa parecida, com alguma frase do tipo “Acorda!! Esse vive com a cabeça na Lua!”. Considero isso pobreza de espírito. Era justamente sobre isso que eu pensava.
De outro lado vinha ela. Droga! Tinha de ser justo ela? Seis meses se passaram e eu ainda não estava preparado pra encontrá-la. Um dia estaria ? Bom, isso não era coisa pra se pensar naquela hora. Faltavam poucos passos pro encontro se tornar indisfarçável. O que mais me assombrava é que eu sabia que era ela sem precisar levantar a cabeça. O ritmo do salto batendo no chão foi o que me fez reconhecê-la. Mais de 3 bilhões de mulheres, e ela conseguiu desenvolver um batuque ao andar que mais ninguém sabia fazer. Será que alguém, além de mim, tinha o dom de reconhecer esta melodia? Tlec, tlec, tlec, cada vez mais alto. E agora?
Era uma chance pra mostrar que tudo estava bem. Ou o momento perfeito, para que, então, sem discurso preparado, eu dissesse tudo que sempre quis. Sem freios, sem pensar, só dizer. Dois passos. Não restavam mais que dois passos para que o duelo começasse. Então levantei a cabeça, e ... nada disse. Apenas continuei andando.
Sentei-me. Precisava de fôlego. Não foi covardia, medo, timidez ou qualquer sentimento desses que impedem a gente de fazer o que gostaria, que me fizeram calar. Ao levantar a cabeça, descobri que a dona daqueles passos não eram Ela. Outra mulher, qualquer uma. Nem bonita era, e andava produzindo o mesmo som Dela. Aquele som que me fazia sentir tão especial por ser o único a reconhecê-lo. Fôlego recomposto. Passou. Voltei a caminhar olhando fixo para o chão.
(Tirado de SANT’ANNA, Sérgio, “O Duelo”. In Contos e novelas reunidos, São Paulo, Companhia das Letras, 1997)
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